Quando o céu começa a se fechar e a chuva se aproxima, logo as nuvens ganham o brilho intenso dos raios, as descargas elétricas de grande intensidade que podem acontecer entre nuvens ou entre uma nuvem e o solo. Eles são um fenômeno natural, que podem ser vistos em formas irregulares e ramificadas, podendo percorrer distâncias da ordem de 5 km.
De forma técnica, os raios acontecem quando a rigidez dielétrica do ar é quebrada e as cargas elétricas fluem entre as nuvens e o solo. Eles podem ser perigosos para pessoas e animais, já que produzem diversos tipos de radiação eletromagnética e possuir uma carga elétrica muito potente.
O Brasil é um dos países com a maior incidência de raios por ano, sendo 77,8 milhões todos os anos. A maior parte deles atinge a região Norte, onde algumas cidades chegam a receber milhares de raios em um só dia.
Leia mais:
Além disso, em termos de distância, o maior raio do mundo aconteceu no Brasil no dia 31 de outubro de 2018, quando cruzou os céus por 709 km de leste a oeste da Região Sul, indo do Oceano Atlântico até a Argentina. O país também recebe com frequência os chamados super-raios, que são versões mais potentes dos já conhecidos e comuns que aparecem quando chove. Saiba mais sobre esse fenômeno abaixo!
O que são e como se formam os super-raios?
Super-raio é o termo utilizado para designar descargas elétricas que fogem do padrão. Eles foram observados pela primeira vez em 1977, tendo como base as medições de brilho óptico feitas pelo satélite Vela.
Inicialmente, a caracterização classificava um super-raio como uma carga 100 vezes mais brilhante do que um raio típico; atualmente, os dados mostram que eles são tipicamente milhares de vezes mais fortes e mais energéticos.
Enquanto um raio comum possui uma corrente elétrica de 10 mil a 30 mil ampères, os super-raios têm corrente elétrica superior a 150 mil ampères, podendo ainda chegar a 350 mil ampères. Para efeito de comparação, uma pessoa que leva um choque mexendo no chuveiro elétrico deve sentir uma corrente em torno de 10 ampères.
Os super-raios ocorrem quando existe uma curta distância entre a área de carga elétrica e a superfície. Isso porque, quanto menor essa distância, menor é a resistência elétrica, o que causa mais corrente e raios mais intensos. Além de serem muito luminosos, os super-raios costumam ter a coloração azulada, enquanto os comuns são brancos.
Existe um debate entre os cientistas que questiona se essas observações representam fenômenos diferentes dos raios comuns, já que o ângulo de visão de um satélite, por exemplo, é capaz de afetar o brilho observado de um raio.
Com isso, os pesquisadores adicionaram aos dados normais dos satélites os sinais detectados por um sensor parecido com uma câmera, permitindo o cálculo do brilho total dos relâmpagos de forma mais precisa.

Como os super-raios aparecem nas tempestades?
Os especialistas sugerem que os super-raios resultam de eventos nuvem-solo carregados positivamente, eventos muito incomuns, no lugar de eventos nuvem-solo carregados negativamente, que são mais comuns e característico da maior parte dos raios.
Isso faz com que o fenômeno dos super-raios seja relativamente raro, acontecendo a cada 100 ou 1.000 raios comuns. Além disso, eles são mais frequentes em lugares que as pessoas não costumam estar presentes, como o meio dos oceanos, ou na região Amazônica, no caso do Brasil. Ainda assim, se você tiver sorte e olhos atentos, é possível vê-los em cidades também.
Osmar Pinto Jr, pesquisador do Grupo de Eletricidade Atmosférica (ELAT) explica: “É uma descoberta relativamente recente em termos científicos. Ainda não sabemos totalmente por que os super-raios ocorrem mais em alguns lugares do que em outros. Surgem novas pesquisas e teorias a cada ano”.
Uma das teorias afirma que o fenômeno acontece mais no oceano por conta da salinidade do mar. Já outra diz que a altitude e relevo influenciam a incidência dos super-raios em terra firme, sendo que os lugares mais altos estão mais perto das nuvens e isso favorece a formação de raios mais curtos e fortes.

Provavelmente, o mais certo é que o acontecimento venha de uma combinação de diferentes fatores. Especificamente na região amazônica, o relevo plano e a alta umidade na floresta podem contribuir para o alto número dos super-raios.
Em 2022, Osmar começou um trabalho de observação para tentar filmar um super-raio. Foram três anos de esforços, do qual a maior parte ocorreu em outubro de 2024, quando foi gravada a série “Caça Tempestades”. Dirigido pela cineasta Iara Cardoso, o documentário foi gravado na Amazônia e tem quatro episódios, e contou com um pesquisador que auxiliou na busca pelas descargas elétricas.
De acordo com Iara Cardoso, o objetivo principal da série é a divulgação do fenômeno e da ciência, unindo entretenimento e conhecimento mostrando os bastidores da caçada às tempestades. Para isso, a equipe se locomovia em caminhonetes pela Amazônia, com uma interface instalada que apontava onde as descargas elétricas aconteciam em tempo real.
Eles então ficavam a certa distância do local, apontavam a câmera para a região com mais incidência de raios e aguardavam para que algo acontecesse. Porém, de acordo com Osmar, não era possível saber se o raio observado é mesmo um super-raio. Depois das filmagens, eles verificavam os dados dos sensores de raios em superfície e de satélite para a confirmação da luminosidade e a amperagem da descarga elétrica.
Com a pesquisa para a série, foi descoberto que é possível sobreviver a um super-raio. A equipe identificou que duas pessoas atingidas por eles sobreviveram, porém, não conseguiram contato com elas. A série completa pode ser assistida online.
